quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dona Zeferina

"Sua vida está toda errada!". Foi a última frase que ouvi daquela senhora roliça, com o buço saudoso de uma cera e a sudorese se fazendo nítida na cutis em um dia mais seco que vagina de freira frígida.

Aquela mulher que tomaria 27 minutos de meu precioso tempo não sabia, também, quando me perguntou "Qual o seu nome?" que minha vida era toda errada.

Dona Zeferina é baiana arretada, gorda, sustetada por duas pernas de siriema que se deixavam aparecer sob a saia que usava pouco abaixo dos joelhos. Ah, sim, esqueci de mencionar: crente. E aí está a explicação para todo o erro da minha vida que ela pôde encontrar.

Mas até então, quando ela me perguntou "Qual o seu nome?", eu não tinha como saber que não poderia contar minha vida ipsis litteris para aquela doce senhora com um diastema tão grande nos dentes centrais que caberia uma cenoura entre eles (ou o objeto roliço que lhe valha). Nada além daquela saia horrorosa denunciava suas convicções psíquico-antropo-sócio-religiosas.

Respondendo a duas ou três perguntas sem intenção de mentir, representei pra Dona Zeferina o Belzebu na terra (e olha que fui raso, hein!). Se o Tinhoso aparecesse cheirando enxofre naquela hora, acho que ela se abraçava com ele pra lamentar por mim.

Acho engraçada essa síndrome de super-heroi mal-resolvido que evangélico tem. Cacete alado, QUEM FOI QUE DISSE que eu quero ser salvo? E, bom, se pra ser salvo eu preciso perder parte da minha massa encefálica e capacidade crítica, FO-DEU. Sou tipo um anão na areia movediça, mano: caso per-di-do.

O Deus de Dona Zefa: Sabre de luz de fábrica ilumina sua vida.

Quando ouvi a frase supracitada, por 3 vezes glória o Senhor teve piedade de mim e chamou pra embarque, e ela se esvaiu como um peido. Sim, porque tem uma coisa que pobre tem mais medo que do Coisa Ruim: perder condução (seja ela terrestre, marítima ou aérea). Com a benevolência dEle, fomos separados por 8 fileiras no voo, o que não a constrangeu em me fazer um sinal da cruz enquanto aguardava a minha mala na esteira de bagagens.

Disse ainda, já em tom conformista: "Olha bem, Deus ama você, viu. Se arrepende de tudo que Ele te aceita no reino dos céus".

Tocado por um sentimento da mais profunda resignação, arrependi-me. E aqui estou contado esta linda história...no BLASFÊMIA cotidiana.

Tem coisa que só acontece comigo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Senso de noção

Outro dia me perguntei: pra quê ter um Blog? Não, sério, pensa bem. Eu não ganho nada com isso, passo o tempo todo observando atentamente às estapafúrdias cotidianas pra me gerar ideias pra escrever aqui (que geralmente esqueço depois de alguns minutos, mostrando que não eram tão boas assim), nunca comi ninguém por causa do Blog e fico constrangido quando recebo elogios por causa dele.

Aí eu venho, sento diante da tela, coço o saco a cabeça uma ou duas vezes com a cabeça do dedo porque minhas unhas são roídas. Desembesto a escrever, leio e me divirto comigo mesmo. Abro o Google Analytics e os gráficos continuam sempre na mesma toada pessimista.

Mas vocês estão sempre aí! Sim, você aí que tá lendo isso. Com um comentariozinho aqui outro lá, ou na silenciosa marcação do gráfico do Analytics, em números e porcentagens, você existe pra mim, e é o motivo de eu escrever aqui, mesmo ocupado pra cacete, mesmo que de vez em quando, mesmo quando num teve tanta graça assim. É muito bom saber que eu não sou aquele mendigo que fica conversando com a parede do Masp.

E pronto, termino aqui meu agradecimento bichinha por vocês estarem sempre aí. Muito obrigado galerê.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mais uma Etapa...

Então eu comecei a fazer cursinho. Sim. Obstinadamente cego em meus plausíveis objetivos de tornar-me um jornalistão sem receber olhares de "Mas você é formado em quê mesmo?", entreguei-me ao carrasco ao dever de relembrar tudo que nem sequer povoa mais meus pensamentos. A não ser a aula de reprodução humana, em biologia. É, essa talvez povoe.

Hoje na aula de história o professor falava das grandes navegações e como sempre veio com aquela história que um dos motivos dos portugas saírem de seus respectivos lares rumando o desconhecido, eram especiarias.

Não pude evitar de levar meu pensamento a Constantinopla longe: QUE CARALHA DE COMIDA RUIM fazia Maria pro Joaquim largar a cerveja, o futebol, a empregadinha gostosa, pegar um barco zuado, cheio de marmanjo fedido e sair por aí correndo risco de vida. Porra, isso não faz sentido nenhum. Ou Maria tinha uma mão de merda pra cozinhar, ou o Joaquim tinha uma síndrome da perna inquieta pra arranjar uma sarna dessa magnitude pra se coçar.

A boa e velha gororoba.

Quando voltei do meu devaneio, já estava em D. João. Volta, Victor, VOLTA!