sábado, 11 de outubro de 2008

Cosas de mi Vida - Parte III

Lá vai...a não menos longa viagem posterior à de Londres.

Bem. Dois dias após o final da epopéia pelas terra de Beth, como havia anunciado anteriormente, fomos convidados a conhecer o sul da França (para compreender com toda a intensidade este post, é necessário ler o anterior, "Cosas de mi vida - Parte II").
A proposta era tentadora. Não era qualquer lugar! Estávamos falando da Côte D`Azur, um dos locais mais requintados de toda a Riviera Francesa! Conheceríamos Nice, Cannes, Mônaco...era quase irrecusável! Mas o trauma Londrino nos fez pestanejar:

-Pera um pouco! Onde vamos ficar?!!!! (em tom agressivo)
- É um studio de um amigo da Ticia! É ótimo!!!Tem tudo lá, é lindo, na quadra da praia, perfeito.
- Tem certeza? Absoluta? Não é mais uma enrascada?
- Nãããããããããão! Fiquem tranquilos!!! Eu garanto!!! (Lembre-se na sua vida que uma pessoa dizer que garante e um burro cagar dá na mesma. Que podiamos fazer depois? Matar o nosso amigo? Arrancar os ovos dele com a mão e fritar em óleo quente, depois jogar uma partida de sinuca?!)

A história era essa: A Ticia, mulher branca do nosso amigo preto (e não estou abordando apenas a questão melanínica...mas eles tinham um casamento branco, um acordo pra conseguir permissões mútuas de estadia nos países dos respectivos) tinha um amigo riquésimo em Nice. Este amigo convidou-a para passar uns dias por lá, oferecendo seu lindo Studio como hospedagem. Meu amigo, como não poderia deixar de ser, estava convidado junto. Nós pagariamos um Migué Europeu, e ficariamos lá sem maiores problemas. Lindo, perfeito.

Voltamos ao Renault que eu jurei nunca mais sentar (cuspir pra cima e cair na testa é comigo mesmo) para enfrentar, desta vez, não 4 ou 7...mas (teoricamente) 9 horas de estrada. Tinhamos que cortar a França inteira, de norte a sul, para chegar lá. Ajeitamos as coisas dentro daquele compacto europeu (adoro esta expressão...dá uma idéia do que foi aquilo), e partimos rumo ao certo mais incerto que já vi. No começo chovia horrores, mas logo teve lugar um dia lindo. Nesta hora eu acreditei, inocentemente, que a tormenta ficaria em Paris, e desta vez sim seria tudo maravilhoso.

Eu era o único que não dirigia. Meu irmão, Binidito (nome fictício do meu amigo...já que eu resolvi contar que o casamento dele era fake) e Ticia armariam um esquema de revezamento pra ninguém ficar estropiado. Os primeiros quilômetros foram lindos! Vimos muitos castelos, o caminho era europeicamente lindo, alguns alpes...uma formosura. Já no início, a mulher aparentava uma certa insegurança...para não dizer apreensão. Chegou a vez dela de dirigir, puxou o banco o-mais-pra-frente-que-os trilhos-suportavam, colou a cara no vidro como fazem aquelas velhas caducas, e dirigiu a 20 por hora. A gente se olhou, olhou para o meu amigo, e ele então resolveu confessar:

-É que ela já sofreu um acidente muito sério uma vez....foi numa curva. Ela tem pânico de estrada.

Ótimo. Estávamos com uma pessoa que tem pânico de estrada nos dirigindo. É a mesma coisa que entregar o comando do navio a um hidrofóbico. Não podia ser melhor. Ou podia...

Certa hora, meu irmão resolveu pegar a direção para dar uma adiantada no caminho, pois pretendíamos chegar antes da senilidade na praia. Pé-de-chumbo que é, aproveitou para tirar o atraso. A mulher quase teve um parto normal. A cada curva que ele fazia, ou mudança de faixa, ou olhava para o lado e não para a estrada, ela soltava um gritinho angustiado. Nessa hora o saco do meu rmão foi pra lua, o meu continuava apertado no banco de trás, e o da mulher tava estourando de medo. Resolvemos parar pra tomar um café.

-Porra, Binidito, assim num vai dar. Dá um sonífero pra essa mulher, assim já acorda ou lá ou no inferno.

Ela era cantora lírica profissional, que já tinha cantado no Ópera de Paris e dado aulas em famosas universidades de música do mundo...inclusive a Unicamp. Em certo momento de nossa parada, ela disse que conseguiria todo o dinheiro da viagem cantando um pouco em Nice numa pracinha pública. Pra dar uma quebrada de gelo e aproveitar meu instinto piadista nato, falei:

-Eu posso cantar com você! - E dei uns acordes com voz de Pavarotti depois da efizema pulmonar.

Puta que pariu. A mulher ficou louca da vida! Eu nem entendi no momento, mas Binidito me explicou depois: Ela ficou muito ofendida em eu comparar a capacidade dela à minha ignorância. Ficou parecendo que eu chamei ela de Joelma do Calypso na concepção músico-piadista. Fudeu geral.
Agora era o raio da mulher de cara fechada pra mim, soltando os gritinhos na curva, meu irmão mais puto then ever, e eu quase tão apertados quanto antes. Só faltava o austríaco dormindo do meu lado.

Depois de 6 pedágios, 4 paradas, 239 gritinhos, 14 puta que parius (em português), 2 gangrenas, 935 quilômetros, 10 horas e meia, 5 estados, e muita...mas muuuuuita canseira, chegamos em Nice. Eram 4 e pico da manhã, fomos pra casa do cara buscar a chave. Começaria, então, nosso calvário. Depois de uns 5 minutos, vem nosso amigo com cara-de-fudeu e diz simplesmente: "Miou".

Não. Nada apenas "mia" depois de tanto sacrifício. Nós pensávamos que era piada dele, agarrando num último fio de esperança...mas não. Sentamos os três dentro do carro, e ele começou a explicar.

- O cara resolveu reformar o studio de última hora, e pensou que ela e eu poderiamos ficar aqui na casa dele mesmo. Mas só tem espaço pra dois. Então, basicamente vocês não tem lugar para ficar.

Isso, sabia bem ele, incluia sua pessoa também. Porque nós não seríamos enxotados às 4 da manhã sozinhos. Eu imagino as nossas caras naquela hora. Já veio tudo à minha cabeça e acho que uma lágrima me correu. Ou não. Bom, hora de enfrentar a realidade. Meu irmão, que já estava doido pra cagar desde que a gente saiu de Paris, cortou logo o silêncio dizendo que largassemos logo a porra da mulher lá e procurassemos um banheiro pra ele, e depois decidiriamos o que fazer. Lembro até dela dando um tchauzinho pra nós. Saimos à procura de um Hotel não muito caro onde pudessemos garantir a cagada do meu irmão e a nossa noite. Rodamos por aproximadamente meia hora. Era alta temporada e NENHUM filho de uma puta de um hotel tinha vagas. Nem caro, nem barato, nem meio-termo, NE-NHUM. O único que supostamente teria era o Hotel Negresco, onde a diária mais barata era 350 Euros. Mais fora de cogitação que isso, impossível! Meu irmão, vendo estrelas, perdeu a compostura e soltou: Vou cagar na praia mesmo. Não sabiamos que a praia era de pedra. Mas nesta hora, pouco importava. Ele acocorou-se lá e...bem, daí vocês já sabem. Veio falando: "Nossa, foi a cagada mais linda que já dei! De frente pro Mar Mediterrâneo!".
Nesta hora o cansaço tomou conta. Paramos o Renault em uma praça a duas quadras da praia, e resolvemos que dormiriamos tortos e mal acomodados lá mesmo. No dia seguinte veriamos o que fazer. Tá, piada! Três marmanjos naquele carro, estavam mais desajeitados do que sardinha na lata. Fora o que nosso amigo tava com um chulé desgraçado:
-Da próxima vez deixa a carniça lá em Paris.
Próxima vez...hahaha. Até parece que cairiamos mais uma vez em qualquer coisa que ele armasse pra gente. Depois daquela, eu não topava nem com reserva de Hotel 5 estrelas confirmada e com firma reconhecida no cartório. Bom, tentativas frustradas de dormir, 5:15 da manhã eu e meu irmão decidimos ir pra praia e ver o sol nascer, pra já começar a aproveitar, mesmo sem dormir.
Chegamos lá, deitamos em uma daquelas espreguiçadeiras que estava dando sopa (cogitando ser nossa cama definitiva), e já vem um segurança nos tirar. Eram de um Hotel. Sentamos nos pedregulhos mesmo (daí vai uma boa parte do pagamento de contas com a Eternidade), e aguardamos 45 minutos até o sol aparecer.

Foi ficando cada vez mais claro, cada vez mais claro...e nós aguardávamos feito crianças o sol surgindo dourado, lindo, naquelas águas que aparentavam muito claras. Quando já estava bem claro, surge o raio de sol! Mas nas nossas costas. O sol não nascia no mar. Imagina a nossa cara de Pastel de feira 5 e Meia da tarde.

Emputecidos, acompanhamos a chegada dos primeiros velhinhos à praia. E descobrimos uma dinâmica bastante interessante. Nas praias européias, como é de conhecimento geral, o Top Less é uma prática comum. Mas não sabíamos que os mais despudorados ficavam completamente nus (para se trocarem). Foi um festival de pelancas! Tinha pra todos os gostos! Caídas, plastificadas, murchas, recheadas, enfim. Dada hora resolvemos entrar no mar, que já parecia muito convidativo. Entendemos porque as velhas entravam usando uma melissa. Entrar no mar de pedras descalço, é pior que subir as escadarias da igreja da Penha plantando bananeira. É uma dor do cão! Mas entramos. E lá ficamos de molho por algumas boas horas. A praia encheu (nada digno de Janeirão no Guarujá), e começamos a ver os primeiros peitos jovens pipocando pelas pedras. Foi reconfortante. Os dois, dentro do mar, anunciando um novo top less como os mercados da bolsa. Até que teve uma hora que começou a ficar normal.

Eis que bate a larica-de-praia (A mais forte que já inventaram). Procuramos algum lugar baratinho pra comer um pingado qualquer, mas esquecemos que aquela era a Riviera francesa. Só tinham mega croissants com Capuccinos chiquetérrimos, etc. Acho que a praça que a gente escolheu pra mendigar era chique demais. Cheguei até a traduzir pra um dono de comércio: Pão com manteiga e café-com-leite (a pedido insistente do meu irmão). Mas não rolou. Gastamos os olhos da cara pra encher as panças. Encontramos nosso amigo, meio puto por dormir mal aquele jeito (e nós sem dormir),e fomos pra praia. Ficamos lá o dia todo. Andamos pra lá e pra cá, conhecemos um mendigo poliglota, demos mais uma procurada em hotel, mas logo percebemos que não ia rolar mesmo. Pelo menos podiamos tomar banho na praia, onde tinham chuveiros de água doce. Levamos o Lux Luxo, o Elseve de cabelos normais, e tomamos banho de verdade.

Descobrimos um lugar que fazia um Panini delicioso, grande, e com um preço justo (num espaço que era uma feira fixa lá...claro, muito chique). Foi isso que comemos durante toda a estadia. Café, Almoço e Janta de Panini. Não reclamo não, pois estava muito bom mesmo. À tarde, de banho tomado, deitei no colchonete na praça e dormi feito criança. E foi assim que ficamos lá por alguns dias...Os dois dormiam na praça (na grama mesmo) dividindo o único cobertor que, por sorte, levamos, e eu no banco detrás do Renaultzinho. Mijávamos nas árvores, e escovávamos os dentes no chafariz da praça. Claro que ainda estávamos putos, mas foi menos pior que a casa Londrina. No último dia, enquanto a mulher foi cantar na feira pra arrecadar o troco da viagem, nós fomos conhecer as cidades vizinhas famosas. Tentamos pegar uma praia em Cannes, mas era paga. Desistimos. Na volta pra Nice, encontramos a mulher lá com um radinho fubreca de fundo dando o acompanhamento e o tom (eu tenho certeza que acompanhava melhor que o radinho). Enquanto os dois foram comer, eu fiquei otimizando os negócios (pra ajudar, já que ela pagaria todos os pedágios e a gasolina para nós também). Segurei o radinho com cara de cachorro pidão, e volta e meia passava o chapéu para recolher os trocados. Tudo isto ao som de Carmem, de Bizet. Formou-se uma aglomeração considerável em volta dela, e nessa arrecadamos bem uns 300 e tantos euros em quase 1 hora. Fiquei abestalhado de ver como é fácil. Merda de europeus cultos que se importam com alguém cantando música clássica na praia.

Arrumamos as coisas, tomamos mais um banho público, resgatamos a mulher, e rumamos para a estrada novamente. A volta não teve nenhum elemento diferente da ida: muitos ais e uis, puta que parius, e um longo e arduoso caminho até a cidade luz.

Mas desta vez, ganhamos um savoir-faire de mendigagem que, indubitavelmente, ficará pra sempre em nossas memórias.

domingo, 5 de outubro de 2008

Cosas de mi vida - Parte II

Lá vai mais uma das andanças por aí. Te prepara que essa é longa.



Tínhamos que decidir se passaríamos alguns dias em Londres ou Casablanca, no Marrocos. Era época do Clone, então estava em alta o Marrocos. Mas mesmo assim nosso amigo advertiu que neste lugar não teríamos um local pra ficar, então deveríamos pagar um hotel, e caso fôssemos passear, teríamos que fazer as necessidades no deserto. Bolso vazio e bundas frescas nos fizeram optar por Londres.



Pobre que é pobre pensa num jeito de não se dar tão mal. Fomos num supermercado e compramos um monte de comida pra uns dias em Londres, pois assim não teríamos que gastar Euros pra comer em Libras. Sacolas e mais sacolas depois, enfiamos tudo no Renôzinho, e seguimos até Calais, norte da França, onde se pega o Navio (e nós esperando uma mísera balsa Santos-Guarujá) até Dover, cruzando o Canal da Mancha. Lá tivemos a primeira surpresa. O serviço, que antes custava 50 Euros pra por o carro lá, não importando quantas pessoas tivessem dentro, passou a ser 50 Euros por pessoas, mais 50 pro carro. Foi aí que já largamos o carro na rua, e adentramos, cheios de classe, carregando muitas sacolas de comida, dentro de um navio chiquérrimo. Eram tias a segurar seus cachorros e nós as malditas sacolas. A viagem foi meio conturbada, mar agitado e coisa e tal...mas chegamos em Dover. Já na imigração levei umas perguntas na orelha e quase fico de fora (sacoleiro, neste momento).



Entramos e ficamos sentados esperando horas a liberação de nossas míseras três mochilas. Depois de uns 40 minutos percebemos que estavam na esteira, já parada, do outro lado de nosso campo de visão. Levemente emputecidos, pegamos e fomos em direção ao trem (ao melhor estilo filme cult inglês) que vai pra Londres (por uma graça divina, incluido no preço do navio). Brasileiríssimos, entramos nas cabines de primeira classe (não tinha ninguém), e começou a farofada. Era queijo pra cá, pão pra lá, de dar inveja aos frequentadores de Praia Grande. Sonecas depois, a minutos de Londres, passa um fiscal e vem pedir nossos tickets. Percebendo que eram de segunda classe, deu-nos uma advertida, e nós, candidatos momentâneos ao Oscar de melhor atuação, fizemos cara de "Meu Deus!!!". Nessa hora, Elisabeth já era morta (porque Inês é em Portugal), já que a estação de Londres chegou. Descemos, pegamos metrô e fomos até a casa de um amigo do nosso amigo que ia nos levar pro local onde ficaríamos alojados. Era uma puta bicha louca...insana! Talvez, dado nosso cansaço, ele tenha ficado mais irritante do que qualquer bicha louca insana. Mas o melhor estava por vir.



Chegando no lugar, abriu-se uma porta em minha frente. Gente, juro. Nesse instante eu comecei a me arrepender de não escolher cagar no deserto. A primeira visão que eu tive foi de dois caras seminus em uma cama ao fundo do corredor. No chão, um tapete de uns 4 dedos de altura, mais 2 dedos de poeira, com gatos (uns três, que contei antes que meu cérebro liga-se o foda-se) correndo por ali. Automaticamente minha rinite aguda crônica se fez presente. Olhei a cozinha, que ficava à direita, e cantei os parabéns do aniversário de suas crostas de sujeira. Nisso, passa uma velha Polonesa com cara de louca varrida (depois vim a descobrir que ela era de fato louca), subindo as escadas que davam no aposento que eu e meu pobre irmão iamos ficar alojados.



Subindo (neste momento minha rinite já tinha levado meu nariz embora), visualizei o banheiro à direita, com alguns azulejos faltantes, e outra comemoração festiva para as crostas de sujeira (ainda mais animada!). Olhei pro quarto, minha última esperança de salvação, que seria nossa ilha dentro daquele antro. Mas não. Era um depósito da velha louca, onde ela trabalhava rapidamente pra retirar todos os seus entulhos, sem falar uma palavra e sem olhar nos nossos olhos. Eu particularmente tenho medo de pessoas que não olham nos olhos. Ainda mais sendo polonesa, e com cabelos brancos esvoaçantes, típicos que estampam capas de jornais criminais. Aí já estava mais do que claro. Cagar no Deserto 1, Nós -12. Ah, e tudo isto foi guiado pela bicha louca insana que soltava uns " isto aqui está meio caidão né, mas foi o que eu consegui pra vocês ficarem" entre passadas de dedos na cobertura de poeira. Ensaiamos uma saída noturna para as primeiras impressões, mas a típica chuva londrina nos fez voltar rápido (e molhados) à sede do inferno no Reino Unido. Deitamos (sem banho), comemos um pão cada um, e dormimos pra chegar logo a hora de sair de lá.



Dia seguinte, energias quase renovadas, saímos cedinho daquele lugar. Compramos um passe de metrô cada um(daqueles do dia inteiro), e fomos à luta. Neste dia conhecemos muita coisa de Londres! A London Eye, Tâmisa, Parlamento, Big Ben, Museu, Museu, Museu, Picadilly Circus, Queen's Garden (onde fizemos uma pausa para alimentação com os lanches preparados lá na masmorra). O ponto alto foi, sem dúvida, o Palácio de Buckingham! Paramos em frente, depois de um momento de apreciação, meu irmão grita: "Elisabeeeeeeeeth!!!", apontando para o prédio. Gente, juro. Pararam guardas (os de fora), carros, passantes, turistas, guardas (os de dentro), cachorros e tudo mais que passava por lá. Rimos com gosto de brasileiro que ri da cara de gringo inocente.

Chegado o momento em que a vibe "Dane-se, estamos em Londres" não possuia mais efeito sobre nós, resolvemos ir para a "casa". Chegando lá, tiramos no palitinho quem ia ser o primeiro a enfrentar aquela calamidade (que chamavam de banheiro). Ficou mais uma briga de "duvido". Decidimos, então, irmos embora pra Paris na tentativa de recuperar o resto de dignidade que nos sobrava. Deitamos, mais um dia sem banho. Acordamos no dia seguinte com as catingas dando sinal de força, passeamos mais um pouco em Londres, pegamos trem (primeira classe, de novo!), navio e chegamos em Calais.

Nessa hora o sentimento já era quase de desespero. Sabe aquela coisa meio Corrida Maluca ao Chuveiro, às camas limpas e a vidas normais? Justamente. Em Calais encontramos um Austríaco:
-Vocês vão pra onde?
-Pra Paris
-Vocês podem me dar carona?
(Reunião)
- Sim, contanto que você pague o pedágio (duros, o pedágio custava 20 euros).
-It's okay!

It's okay para aqueles cornos que foram no banco da frente! Eu, o Austríaco e as malas em um Renault me conduziram ao momento de maior apertamento na vida que eu tenho memória. O desgraçado dormiu, e eu fiquei lá mastigando minha raiva no Renault que ia pela chuva que Deus mandava. Chegando no pedágio, meu irmão cutucou o cara e disse pra ele dar o dinheiro do pedágio. Ele tirou 5 euros do bolso, deu pro meu irmão, virou pro lado e dormiu. Claro, idiotas! 20 euros dividido por 4 pessoas era 5 pra cada um. Nesta hora consideramos chutar o filho da puta do carro e dormiu. Vestimos a melhor máscara de trouxas, demos o resto do dinheiro, e continuamoso caminho.

Já em Paris, aquele desgranhento ainda pediu se dava pra deixar ele na Gare de L'est. Olhamos um pra cara do outro e consideramos deixar ele em qualquer biboca pra que fosse levado por marginais. Mas nosso resto de censo de humanidade não nos deixou fazer isso. Largamos o homem lá e só pensávamos em chegar em casa e tomar um bom banho.

Chegando lá foi quase uma final de SuperBowl em Nova York. Só faltamos dar rasteira uns nos outros pra ver quem chegava primeiro e ter o prazer de se lavar em 3 dias. Acabamos com a reserva de água quente...mas eu tomava banho nem que fossem águas das geleiras do Himalaia.

Reconstituidos, mas ainda traumatizados, dois dias depois fomos convidados a irmos pra Nice, no Mar Mediterrâneo, sul da França...mais atraente impossível. Topamos. Mas essa vai ficar para o próximo post.

Blasfêmia Oral

Andei lendo sobre essa reforma ortográfica, e fiquei meio puto. Li um texto do Diogo Mainardi (não sei porque ainda o faço) achando lindo o fato de pessoas na África entenderem tudo que ele escreve daqui do Brasil (coitadas...antes ficassem sem entender, mal sabem as asneiras que as aguardam!).

Mas eu não. Fiquei puto mesmo! Não acho lindo coisa nenhuma. Além do que esta decisão foi tomada por todo mundo que fale português, menos o Brasil, decerto. Só a gente saiu perdendo trema, acento agudo, circunflexo e o escambau. Porra, já que a idéia é unificar a língua portuguesa, manda algum representante daqui também pra defender nosso jeitinho! Tá parecendo que vamos ter que chupar essa manga sozinhos!

Justo nós! Brasileiros! Pra quem não sabe, o Brasil é o país onde se tem o maior número de lusófonos na Terra (quiçá no Universo!). E levamos uma boa enrabada aí.

Tá certo...pros pimpolhos que ainda vão ser alfabetizados é tranquilo (sim, sem o trema). Agora...e nós??? Pobres diabos da Gramática provinciana?! O Pasqualão deve estar roendo os cotovelos de raiva. Bom...acho que ele não...já deve estar decorando todas.

Pensa em um vôo sem acento! Ganhamos, por outro lado, o K, o W e o Y...e com isto Kelly Key foi a mais beneficiada (ela não quis comentar o assunto). O pobre trema, que fazia a linguiça ter mais sabor, dessa vez caiu mesmo. Geleia, ideia e asteroide, por exemplo, agora são grafados desta forma. Sem acento agudo!!!! E por aí vai. Esta epopéia (ou seria epopeia) sem fim! Isto sem contar os hífens, que aí já vira uma putaria completa.
Vê se alguém acatou minha útil sugestão de unificar os Porques! Nãããããããããããão, é claro que não. Ainda temos QUATRO JEITOS DE PERGUNTAR, mas não podemos por uma merda de um circunflexo nas letrinhas repetidas.

Agora eu me pergunto: Será que os filhos das putas dos Portugueses e dos Africanos não entendiam quando alguém escrevia "paranóia"??? Ficavam pensando "Putaquelparil, ó pá! Que será que querem dizer os brasileiros com isto?!". Tô começando a achar que quem inventou essa coisa toda foi um português!

Balanço Final: Não vejo a hora de começar o próximo Soletrando, do Huck. O pau vai comer!

PS: Segue o link abaixo das dicas preciosas da Michaelis pra quem quiser se aventurar a aprender o mais novo jeito de se dizer velhas coisas.

http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.html

Sobre cabelos e bairros Novaiorquinos

Pouco depois da Canal St.

-Olhaaaaaaaaaaaa (com ares de Cristovão Colombo)! Será que tem Soho no Soho?????????
¬¬
- Que é esta cara?
- O Soho teve origem no Soho.
-Ah...(com ares de puta que me pariu)

Cosas de mi vida!

Tem algumas histórias de viagens da minha vida que quem me conhece já ta careca de saber...mas resolvi postar aqui pois são muito boas e não se perderiam no tempo/espaço desta forma.

Estava em Paris andando de patins (sim, sim...eu sei) quando de repente cai uma chuva de fazer inveja à da inauguração do tunel da Marta. Resolvi pegar o metrô assim mesmo e ir pra casa.

Eram umas 5 da tarde, o trem não estava cheeeeeio, mas assim que adentrei o vagão, me vi sem lugar para segurar. Não seria um problema se eu não estivesse com os patins. Sim, eu estava.

As portas fecharam, meu desespero se justificou. O trem começou a andar e eu a ir pra tras...
Antes tivesse caído de bunda no chão, que assim a francesada toda ria da minha cara e acabou.

Mas eu fui indo mais e mais ao fundo, já adquirindo uma velocidade considerável...

Eis que no final do trem encontra-se uma velhinha esteriotipadamente velha. Corcundinha, cara de francesa mal comida, e agarrada a um pau-de-sebo (como eu chamo carinhosamente aqueles ferros onde deveríamos segurar). Conclusão: Eu bati de costas com ela, e comprovei na prática várias leis da física: Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, uma velha não é a melhor forma de parar algo em velocidade e, principalmente, velhas francesas fisicamente agredidas ficam muito, muito putas.

Fim do jogo: Eu caido de um lado do metrô, rindo até desmaiar, a velha, caída do outro xingando até os primatas que evoluiram até mim, e muita gente com cara de "que grandissíssimo filho da puta".

Descobri, neste momento, porque é proibido entrar com coisas que tenham rodas no metrô de São Paulo.

Da série odeio...

Outro dia fui pegar um busão na Augusta pra descer ruas-chiques-abaixo e chegar na Cidade Universitária. Ô tarefa ingrata. Passar diariamente de busão pela Av. Europa é tortura. Me sinto o cachorro em frente àqueles giradores-de-frangos. São Lamborghinis, Ferraris, Mazerattis, Porsches...e eu dentro de um exemplar da Caio, pagando meia passagem.
Mas seguinte é esse...Estive todo pimposos no ponto esperando o famigerado "Cidade Universitária". Mas descobri que as pessoas são possuidas pelo demo quando o referido se aproxima! Não é possível! Aquelas carinhas de inocentes num piscar de olhos se tornam capetas em forma de guris ( MALLANDRO, Sérgio) e ficam mirando onde vai parar a porta!
Feliz ou infelizmente, neste dia a porta parou na minha cara, e eu me dirigi à mesma com o intuito de adentrar o bus. Mas puta que o pariu! Um cara me ACOTOVELOU pra entrar na minha frente! Nesta hora eu juro que pensei tanta coisa junto, que me deu até um piripaque interno. Que viado é esse que num pode correr o risco de ficar em pé?! Que merda de cultura da vantagem é esta onde se estapeia (ou acotovela, no caso) pra ficar sentadinho?! Que porra de país é este que eu tô vivendo onde não existe civilidade mínima?! E por aí vai (acreditem, eu suprimi MUITAS palavras feias que me vieram à cabeça).
Olhei bem nos olhos daquela múmia sentada passando a mensagem explícita: Vai tomar no cu seu filho de uma puta de merda.
Acho que ele entendeu: Você roubou meu primeiro lugar no ônibus! Da próxima vez te dou um murro na boca.
Entendida a mensagem ou não...me fez pensar que, mais do que barulho de boca, eu O-D-E-I-O a falta de civilidade.
Bom...preciso por uma boca mastigando do lado de alguém jogando o lixo no chão pra decidir o que eu odeio mais...
Aguardem em breve a decisão final!