Relembrei uma história de um momento da minha vida esses dias e acho que cabe bem contar por aqui...
Por 6 meses eu morei no cu do mundo. Aliás, o cu do mundo é quente pra caralho! Sim, meus amigos. Depois vim a descobrir que foi uma das experiências mais importantes da minha vida, mas quando tudo começou eu não sabia disso. Morei em Rosana, extremo Oeste do Estado de São Paulo. Basicamente é a última cidade do biquinho do estado. Onde Judas perdeu a vergonha (porque se perdeu as botas muuuuito antes de lá, chegou seminu já). Fui estudar, porque passei no vestibular, e simplesmente fui, assim sem pensar.
O fato é que tão distinta autarquia dista 700 quilômetros (agradecimento ao Google Maps) da cidade onde morava até então, no interior do estado. Tudo bem, se você vai de carro, são NOVE horas de extrema unção. E sim, isto não é necessariamente um problema, por mais que pareça. O problema MESMO é quando se vai de ônibus. São DEZESSETE HORAS de lamúria e MUITA chateação, entre paradas em rodoviárias-chiqueiros e microparadinhas na estrada pra apanhar andarilhos. Bom, pra começar que a única companhia que faz este trecho (óbviamente que não é direto) é uma companhia de viação de quinta, que não vou citar o nome aqui por razões éticas. Mas se pintar um ônibus da Andorinha na sua frente, foge. Aliás dizem que "uma andorinha só não faz verão". Pena. Porque se tivesse uma só eu dava-lhe uma estilingada e evitaria palpitações cardíacas posteriores. Na comunidade do Orkut "Eu odeio a Andorinha", tem histórias de pessoas que viajaram com um porco andando pelo ônibus, de apreensão do busão inteiro por tráfico de drogas, de gente que viajou em banco mijado, de gente que viu as malas voando pela estrada, e de gente que teve que EMPURRAR O BUSÃO na estrada pra pegar no tranco. Daí vocês vejam que nada do que será dito a seguir é uma hipérbole.
Dentre as 4 vezes que eu fui-voltei pra casa, uma delas foi extremamente peculiar. Logo de cara me sobrou a poltrona do canto, que eu detesto. Prefiro viajar de pé do que sentar no canto (janela, como queiram). Sei lá, me dá um momento-quero-fugir-e-não-tenho-como e num passo muito bem, não. Mas como sobrou só aquela, então mifu mesmo. Eis que senta uma gorda, daquelas de dar orgulho ao dono do KFC. Aquelas que salvam o expediente do dono da pastelaria! Sua bunda já ultrapassava o delimitador de espaços, confrontando diretamente com a minha, que já não é exatamente pequena. A primeira atitude que digníssima senhora toma é tirar os sapatinhos e por os pés pra cima. Gente, juro. Pensa em um sapatinho de velha gorda. Gorgonzola com fandango é o que mais se aproxima de tão cruel realidade que me aguardava naquele momento. Ela ainda deu um sorrisinho - porque CERTAMENTE NÃO SENTE MAIS AQUELE FEDOR - e disse: "É por causa daS varize!", prenunciando o que viria à seguir: Muita falação e um genocídio à língua portuguesa. Depois, para completar, ainda peidava e roncava. Gente, sem exagero agora. Eu ACORDAVA com o cheiro dos peidos dela. Quer dizer, né. Dá pra piorar? Dá!
Anteriormente àquela viagem, a Andorinha deixava copinhos de água na "geladeira" do ônibus para os pobres passageiros. Esse geladeira entre aspas refere-se à temperatura que a água atingia não se relacionar em nada com a pretendida por um equipamento refrigerador. Aí algum energúmeno teve a GENIAL idéia de colocar dentro do ônibus um galão de água de 20 litros, provavelmente para mostrar sua pró-atividade para a diretoria da companhia em descobrir formas simples de economizar nas viagens. Mas aquele infeliz esqueceu-se que moramos no Brasil, e que nossas estradas NÃO SÃO BOAS. Tem mais buraco que o metrô de São Paulo, porra! Eu sei que depois de Marília, começa um saculejamento tão grande, que iniciou-se um processo de acontecimentos caóticos para completar a minha noite. Manja aqueles negócios que tem no ônibus que ficam o ar-condicionado e as luzes (que no caso não acondicionavam o ar e nem acendiam)? Pois é, amigos. Aquela merda INTEIRA caiu na minha testa, enquanto eu dormia. Foi uma porrada bem no meio da minha cara, e ficou pendurada pelos fios que deveriam contribuir para o funcionamento desta joça. Puto, encaixei aquilo de novo em seu lugar, que logo caiu de novo e bateu mais forte que da primeira vez. Não dava pra arrancar fora e jogar, não dava pra grudar de volta, não tinha um lugar vago no ônibus. Agora vejam meu azar. Isto deveria ter acontecido com a velha gorda, porque eu troquei de lugar com ela, justifiquei claustrofobia e ela trocou de bom grado comigo. Mas a desgraçada dormia tão pesado, que não ia dar pra eu pedir pra ela voltar pro lugar original. Tentei dormir com aquele treco batendo na minha cara pendurado pelos fios.
Determinado momento, minha mochila caiu de cima do bagageiro (sim, a saculejância é MUITO FORTE), mas eu não percebi. Certamente, como qualquer animal quadrúpede previria, o galão de 20 litros de água também caiu, molhando TUDO que estava à sua volta, incluindo a minha pessoa e minha mochila que estava no chão com um monte de roupa limpa e passada. Mas ainda assim eu não tinha me dado conta que era minha a mochila que estava no chão. Só que teve uma hora que um bêbado quis ir ao banheiro, e a coitada não estava deixando a porta abrir completamente pra que ele passasse. O infeliz começou a gritar, xingar e CHUTAR A MINHA MOCHILAAAA! Eu acordei com aquele quiprocó armado, e fui olhar o que ele estava chutando. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que era A MINHA mochila???? Recolhi humildemente, ela escorria água de dentro pra fora. Nessa hora eu me segurei pra não chorar. Juro. Veio até a garganta. Foi a sinestesia mais cruel da minha vida: O odor dos peidos da velha misturado com seu chulé, o tato da minha mochila inteira pisoteada e molhada, o barulho do motor do ônibus no meu ouvido, e a imagem do bêbado mijando no banheiro porque não conseguiu fechar a porta. Se tivesse uma merda à mão eu lambia só pra garantir a desgraça dos 5 sentidos.
Eu cheguei lá pior que pinto no lixo. Parecia que tinha sido atropelado pela Vai-Vai e pela Imperatriz Leopoldinense juntas. A mardita da velha saiu sorridente pra encontrar os seus, o fiudumaquenga do bêbado saiu cambaleando pra encontrar os dele, e eu fui embora em silêncio para minha humilde residência, o Hotel. Esta viagem vai ficar pra sempre na minha memória como A PIOR VIAGEM DA MINHA VIDA.
De tudo isto se tira uma moral: Pense MUITO bem antes de preencher um "Manual do Candidato", viu. Mas depois que preencheu, e já tá no inferno, encoxa de vez o capeta. Porque a gente se fode, mas se diverte!
domingo, 5 de abril de 2009
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