Lá vai mais uma das andanças por aí. Te prepara que essa é longa.
Tínhamos que decidir se passaríamos alguns dias em Londres ou Casablanca, no Marrocos. Era época do Clone, então estava em alta o Marrocos. Mas mesmo assim nosso amigo advertiu que neste lugar não teríamos um local pra ficar, então deveríamos pagar um hotel, e caso fôssemos passear, teríamos que fazer as necessidades no deserto. Bolso vazio e bundas frescas nos fizeram optar por Londres.
Pobre que é pobre pensa num jeito de não se dar tão mal. Fomos num supermercado e compramos um monte de comida pra uns dias em Londres, pois assim não teríamos que gastar Euros pra comer em Libras. Sacolas e mais sacolas depois, enfiamos tudo no Renôzinho, e seguimos até Calais, norte da França, onde se pega o Navio (e nós esperando uma mísera balsa Santos-Guarujá) até Dover, cruzando o Canal da Mancha. Lá tivemos a primeira surpresa. O serviço, que antes custava 50 Euros pra por o carro lá, não importando quantas pessoas tivessem dentro, passou a ser 50 Euros por pessoas, mais 50 pro carro. Foi aí que já largamos o carro na rua, e adentramos, cheios de classe, carregando muitas sacolas de comida, dentro de um navio chiquérrimo. Eram tias a segurar seus cachorros e nós as malditas sacolas. A viagem foi meio conturbada, mar agitado e coisa e tal...mas chegamos em Dover. Já na imigração levei umas perguntas na orelha e quase fico de fora (sacoleiro, neste momento).
Entramos e ficamos sentados esperando horas a liberação de nossas míseras três mochilas. Depois de uns 40 minutos percebemos que estavam na esteira, já parada, do outro lado de nosso campo de visão. Levemente emputecidos, pegamos e fomos em direção ao trem (ao melhor estilo filme cult inglês) que vai pra Londres (por uma graça divina, incluido no preço do navio). Brasileiríssimos, entramos nas cabines de primeira classe (não tinha ninguém), e começou a farofada. Era queijo pra cá, pão pra lá, de dar inveja aos frequentadores de Praia Grande. Sonecas depois, a minutos de Londres, passa um fiscal e vem pedir nossos tickets. Percebendo que eram de segunda classe, deu-nos uma advertida, e nós, candidatos momentâneos ao Oscar de melhor atuação, fizemos cara de "Meu Deus!!!". Nessa hora, Elisabeth já era morta (porque Inês é em Portugal), já que a estação de Londres chegou. Descemos, pegamos metrô e fomos até a casa de um amigo do nosso amigo que ia nos levar pro local onde ficaríamos alojados. Era uma puta bicha louca...insana! Talvez, dado nosso cansaço, ele tenha ficado mais irritante do que qualquer bicha louca insana. Mas o melhor estava por vir.
Chegando no lugar, abriu-se uma porta em minha frente. Gente, juro. Nesse instante eu comecei a me arrepender de não escolher cagar no deserto. A primeira visão que eu tive foi de dois caras seminus em uma cama ao fundo do corredor. No chão, um tapete de uns 4 dedos de altura, mais 2 dedos de poeira, com gatos (uns três, que contei antes que meu cérebro liga-se o foda-se) correndo por ali. Automaticamente minha rinite aguda crônica se fez presente. Olhei a cozinha, que ficava à direita, e cantei os parabéns do aniversário de suas crostas de sujeira. Nisso, passa uma velha Polonesa com cara de louca varrida (depois vim a descobrir que ela era de fato louca), subindo as escadas que davam no aposento que eu e meu pobre irmão iamos ficar alojados.
Subindo (neste momento minha rinite já tinha levado meu nariz embora), visualizei o banheiro à direita, com alguns azulejos faltantes, e outra comemoração festiva para as crostas de sujeira (ainda mais animada!). Olhei pro quarto, minha última esperança de salvação, que seria nossa ilha dentro daquele antro. Mas não. Era um depósito da velha louca, onde ela trabalhava rapidamente pra retirar todos os seus entulhos, sem falar uma palavra e sem olhar nos nossos olhos. Eu particularmente tenho medo de pessoas que não olham nos olhos. Ainda mais sendo polonesa, e com cabelos brancos esvoaçantes, típicos que estampam capas de jornais criminais. Aí já estava mais do que claro. Cagar no Deserto 1, Nós -12. Ah, e tudo isto foi guiado pela bicha louca insana que soltava uns " isto aqui está meio caidão né, mas foi o que eu consegui pra vocês ficarem" entre passadas de dedos na cobertura de poeira. Ensaiamos uma saída noturna para as primeiras impressões, mas a típica chuva londrina nos fez voltar rápido (e molhados) à sede do inferno no Reino Unido. Deitamos (sem banho), comemos um pão cada um, e dormimos pra chegar logo a hora de sair de lá.
Dia seguinte, energias quase renovadas, saímos cedinho daquele lugar. Compramos um passe de metrô cada um(daqueles do dia inteiro), e fomos à luta. Neste dia conhecemos muita coisa de Londres! A London Eye, Tâmisa, Parlamento, Big Ben, Museu, Museu, Museu, Picadilly Circus, Queen's Garden (onde fizemos uma pausa para alimentação com os lanches preparados lá na masmorra). O ponto alto foi, sem dúvida, o Palácio de Buckingham! Paramos em frente, depois de um momento de apreciação, meu irmão grita: "Elisabeeeeeeeeth!!!", apontando para o prédio. Gente, juro. Pararam guardas (os de fora), carros, passantes, turistas, guardas (os de dentro), cachorros e tudo mais que passava por lá. Rimos com gosto de brasileiro que ri da cara de gringo inocente.
Chegado o momento em que a vibe "Dane-se, estamos em Londres" não possuia mais efeito sobre nós, resolvemos ir para a "casa". Chegando lá, tiramos no palitinho quem ia ser o primeiro a enfrentar aquela calamidade (que chamavam de banheiro). Ficou mais uma briga de "duvido". Decidimos, então, irmos embora pra Paris na tentativa de recuperar o resto de dignidade que nos sobrava. Deitamos, mais um dia sem banho. Acordamos no dia seguinte com as catingas dando sinal de força, passeamos mais um pouco em Londres, pegamos trem (primeira classe, de novo!), navio e chegamos em Calais.
Nessa hora o sentimento já era quase de desespero. Sabe aquela coisa meio Corrida Maluca ao Chuveiro, às camas limpas e a vidas normais? Justamente. Em Calais encontramos um Austríaco:
-Vocês vão pra onde?
-Pra Paris
-Vocês podem me dar carona?
(Reunião)
- Sim, contanto que você pague o pedágio (duros, o pedágio custava 20 euros).
-It's okay!
It's okay para aqueles cornos que foram no banco da frente! Eu, o Austríaco e as malas em um Renault me conduziram ao momento de maior apertamento na vida que eu tenho memória. O desgraçado dormiu, e eu fiquei lá mastigando minha raiva no Renault que ia pela chuva que Deus mandava. Chegando no pedágio, meu irmão cutucou o cara e disse pra ele dar o dinheiro do pedágio. Ele tirou 5 euros do bolso, deu pro meu irmão, virou pro lado e dormiu. Claro, idiotas! 20 euros dividido por 4 pessoas era 5 pra cada um. Nesta hora consideramos chutar o filho da puta do carro e dormiu. Vestimos a melhor máscara de trouxas, demos o resto do dinheiro, e continuamoso caminho.
Já em Paris, aquele desgranhento ainda pediu se dava pra deixar ele na Gare de L'est. Olhamos um pra cara do outro e consideramos deixar ele em qualquer biboca pra que fosse levado por marginais. Mas nosso resto de censo de humanidade não nos deixou fazer isso. Largamos o homem lá e só pensávamos em chegar em casa e tomar um bom banho.
Chegando lá foi quase uma final de SuperBowl em Nova York. Só faltamos dar rasteira uns nos outros pra ver quem chegava primeiro e ter o prazer de se lavar em 3 dias. Acabamos com a reserva de água quente...mas eu tomava banho nem que fossem águas das geleiras do Himalaia.
Reconstituidos, mas ainda traumatizados, dois dias depois fomos convidados a irmos pra Nice, no Mar Mediterrâneo, sul da França...mais atraente impossível. Topamos. Mas essa vai ficar para o próximo post.
domingo, 5 de outubro de 2008
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2 comentários:
porra, já sabia a história inteira, mas li tudo pq e sensacional!!!!
então vi, ganhei, cara! hahahah! hoje (sexta) é a premiação. se tiver afim de ir, vai ser no centro, 19h.
abraço
*ligasse o foda-se.
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