domingo, 28 de dezembro de 2008

Nin hao!

Em 2007 eu decidi que ia estudar chinês. Queria alguma coisa diferente, sabe? Além de dar "aquele" up no curriculum, por gostar muito de línguas e ter facilidade, decidi pelo mandarim.
Minha primeira cagada foi ter me matriculado em uma matéria optativa que a Letras da USP oferecia de chinês. Sim, porque se eu reprovasse ia carregar aquela DP pro resto da vida. Mas como seria de graça, a tal da injeção na testa falou mais alto. E falou mais alto do que meu sono, também, afinal seriam 2 horas, 3 vezes por semana, das 8 às 10 da manhã. Pra quem me conhece só um pouquinho sabe que estar na USP às 8 da madrugada é um sacrilégio descabido, que eu não faria nem pra tirar o pai da forca. Tá, pra isso eu faria, mas como as possibilidades de quererem enforcar meu pai - que é um amor de pessoa - na USP, às 8 da madrugada são ínfimas, eu digo que não faria.

Bom, primeiro dia de aula, a professora (nativa a filha da puta) ensinou as 4 entonações básicas do mandarim: inhu (é um grunhido, não tente ler como I+N+H+U), inhuuuu (que é o mesmo grunhido, um pouco mais compridinho), unhi, e X - que é um grunhido que eu não conseguia imitar. O único da sala:

- Não é üihY. É üihY! - tentava me ensinar a pobre chinesinha.
- üihY
- Nããão. Você não está dando a entonação certa. É üihY!
- üihY!

E por aí vai. Não consegui dar a merda da entonação. Pode não parecer um problema, mas é. E mandarim, a mesma coisa ( a exata mesma coisa) dentro das 4 entonações diferentes tem sentidos diferentes. Güi = Mãe, Güiiiiiii (o mais longuinho) = Égua. Pronto. Pra chamar a mãe do cara de égua, é dois palitos. E a prófi insistia na minha entonação diante da sala inteira. Comecei a ficar puto.

Daí começaram também as aulas de grafia. Ieroglifos, desenhinhos...ou simplesmente ideogramas (o nome científico). Cara. No começo até que faz alguma sentido. Porque o desenho representa o que é. "Criança" parece o desenho de um molequinho. "Mulher" parece uma mulher ajoelhada com um manto - segundo a prófi é porque o chinês entende que a mulher deve obediência e deve se curvar diante do homem. Até aí, legal. Agora começa a viagem: a palavra "Bom" é um ideograma formado pelo mix de "criança" e "mulher", porque pro infeliz do chinês, o que pode ser "bom" além de sua mulher e sua criança. Ou seja, fudeu geral. Porque a partir de um momento, pra você saber o que está escrito tem que usar drogas pesadas, e ser muito, mas muito criativo, além de profundo conhecedor da cultura e sabedoria chinesa. Ah, tudo isto às 8.

Estive persistente, até a primeira prova. A mulé apresentou ideogramas e nós, pobres mortais, tínhamos que decifrar o que estava escrito. Eu fiquei 1 hora e quarenta em frente àquele pedaço de papel, e não descobri UM IDEOGRAMA SEQUER. Neste momento decidi que todo o sacrifício que representava o estudo daquela língua infeliz, seria em vão. Já enxerguei minha primeira e única DP no meu histórico da faculdade, e tive um pesadelo com a professora de chinês usando uma cinta liga e um chicote na mão me disciplinando. Acordei decidido a acabar com aquilo. Nos últimos 5 minutos que ainda poderia ser feito, cancelei minha matrícula. Foi com dor no coração, confesso. Mas meu cérebro agradeceu de joelhos - que nem tem.

Com isso eu descobri uma coisa sábia: Ninguém fala chinês. Eu tenho certeza. As pessoas fingem fazê-lo, mas no fundo, no fundo, ninguém fala. Nem os nascidos. Devem só fazer pressão...falam mesmo é inglês. Pelo menos foi o que minha consciência entendeu...às 8 da madrugada.

Um comentário:

Eliana Grellet Nicolas disse...

hauhauahauah

Isso me lembra minhas aulas de arabe:

(prof) - Rhêeee
(eu) - Rêeeee
(prof) - não, é RHÊEEEEEEE
(eu) - Rêeeeeee

E por ai vai... rs