Eu poderia montar uma sessão de posts aqui no Blog com esse nome, só contando as experiências que me sucederam quando mudei para São Paulo. Pra quem não me conhece ou não sabe minha história de vida (violinos ao fundo), eu nasci em Sampa, mas mudei quando criança pra uma cidadezinha (30.000 habitantes....é menos gente que na minha rua) do interior de São Paulo, tão cedo que nem tenho memórias pré-interioranas. Mas assim foi. Cresci, e por lá fiquei até completar 18 anos e mudar para uma cidade...menor. HaHa. Tá, não podia deixar de contar que morei em uma cidade que tinham macacos nas ruas. Mas sobre essa eu falo depois. Passei no vestibular, na famigerada Universidade de San Pablo (adoro dar um ar mexicano às histórias), e vim morar aqui.
Portanto, meu grau de inocência era muito alto. Eu parava pra ouvir todo pedinte, olhava cada vez que buzinavam achando que era comigo, pedia pizza e dava meu endereço apenas com o número do prédio, achava lindo tomar elevador, achava chique andar de metrô sozinho, pedia informação até para aqueles caras que as pessoas tem medo de olhar, andava de madrugada por lugares obscuros, puxava assunto e contava minha vida a qualquer um, e acreditava que o Pão de Açúcar era uma bênção divina por ser 24 horas.
Isto tudo sucedeu-se em 2006, ano que, coincidentemente, uma graaaaande amiga minha também se mudou de lá para cá pelos mesmos motivos. E, como no começo tínhamos tempo e não tínhamos mais nenhum amigo, nos encontrávamos frequentemente para fazer coisas juntos. Pra quem não se lembra, ano de Copa do Mundo. Não lembro onde foi (e to com preguiça de Googlear isso), só sei que a Itália ganhou.
No auge de minha supracitada inocência, fiquei sabendo graças à Central Globo de Produções que exibiam os jogos do Brasil em um telão no Vale do Anhangabaú (você que não é de São Paulo e não sabe o que isto significa pois não sabe o estado de degradação do Centro desta cidade, com certeza não meteu a mão na testa nessa hora). Imaginei na hora que deveria ser uma GRANDE emoção assistir a um jogo do Brasil na Copa em meio a milhares de torcedores brasileiros fanáticos. E foi.
Claro que não poderia ir só. Liguei para essa minha amiga - que é tão Barbie que faz escova e chapinha pra ir pra faculdade - e fomos os dois pro Vale do Anhangabaú assisti Brasil vs. Japão.
Chegamos cedo pra caralho. O telão ainda tava passando Vale a Pena ver de Novo, e tava MUITO vazio. Pensei até que era jogo de câmera da Globo nos takes pra parecer que estava cheio. Então fixamo-nos bem perto da cerca da frente, e fizemos companhia às únicas pessoas que estavam lá vestindo camisetas do tipo "Filma Eu", ou alguma mensagem pro Galvão Bueno. Ficamos conversando e nem percebemos que começou a encher de forma significativa, na medida que a hora do jogo se aproximava.
Gente, juro. Aquilo se tornou, em minutos, a Reunião da "Liga Nacional dos Mendigos Associados". Tirando nós, os que tinham mais dente na boca eram os cachorros - porque um mendigo SEMPRE tem um cachorro. Quando percebemos, já estávamos envolvidos na mendigagem de uma forma bastante olfativa. Determinada hora uma mendiga chupava mexerica e jogava o bagaço no público - eu era um deles. Com isso, logo saiu uma briga de mendigos, e nós começamos a ficar apavorados. Iniciou-se o jogo, e já não havia meio de sair dali. Estávamos no olho do furacão!
Como já diz o ditado: "Tá no inferno, abraça o capeta." Resolvemos assistir o jogo mesmo em meio a tamanho odor e tentar, na medida do impossível, curtir. Eu sei que foi uma coragem grande de nossa parte, mas naquela hora não tinha muito o que fazer mesmo. Começado o jogo, a cada lance que o Brasil chegava perto do objetivo me dava uma ânsia devido aos braços que se levantavam expondo aquele chorume a céu aberto. Estávamos absurdamente apertados e esmagados com os mendigos, que em alguns momentos desacreditavam estar na presença de tão formosa dama naquele lugar, minha amiga. Ela também desacreditava estar na presença de tão formosos lordes.
Eu sei que na hora que o Brasil fez o gol, perdemos o controle. A mendigada pulava e se descontrolou de uma forma, que a polícia jogou bomba de pimenta. Quer dizer né. Se tava ruim, fodeu ge-ral. Só que aquela merda de bomba de pimenta serve pra dispersar multidão. Mas a gente não tinha por onde ser dispersado, já que era cercado por grades. Ou seja, foi um tal de mendigo desmaiar que vou te contar. Uma hora eu e minha amiga abaixamos pra evitar respirar aquilo, mas a suvaqueira e o chulé dos mendigos tava tão forte embaixo que preferimos voltar pra pimenta.
Bom, daí eu já tive que abraçar minha amiga como se fosse namorada pra evitar que a mendigagem se aproveitasse da Barbicie dela, e até o fim foi rezar pra que aquele inferno acabasse logo. Gente, juro. Quando terminou aquele maldito jogo, eu jurei subir a escadaria do Bonfim por ter saído vivo de lá. Parecia que nós tinhamos sido atropelados por três escolas de samba inteiras, e surrados por He-Man e She-Ha juntos em uma batalha mortal. A gente se olhava e não acreditava que havíamos vivido aquela situação. Pegamos o metrô em silêncio, ainda tentando conformar-nos com o odor que exalava de nós mesmos.
Acho que foi o banho mais longo da minha vida. Quando o Brasil perdeu pra França eu quase comemorei. Mas tenho certeza que lágrimas de mendigo rolaram no Anhangabaú.
Paulistano desavisado é Paulistano fodido!
domingo, 22 de março de 2009
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