sábado, 15 de novembro de 2008

Cosas de mi vida - Parte V

Bom, daí que eu estava nos Estados Unidos, há mais de 15 dias sem trabalhar, gastando do meu rico dinheirinho, sem nenhuma perspectiva de início. Eis que chega a Irmina, polonesa gorda que me agenciava (ela vai ter um post próprio) e propõe que eu trabalhe em um estacionamento, enquanto a minha vaga no Hotel não saia. Eu, braço convicto, já avisei que havia reprovado duas vezes no exame de carta, e não poderia trabalhar lá. Mas ela me fez uma proposta interessante...que eu ficasse só na parte de tirar neve dos carros, ou pegasse um ou outro de vez em quando. Na pindaíba do momento, topei.
O turno começava as 5 e ia até a 1 da manhã. Naquele dia nevava como em filmes natalinos (a neve é linda, mas irrita), e o carro da empresa passou em casa pra me pegar. Chegando lá, os primeiros servicinhos que eu tive foram, de fato, limpar os carros com neve. Até que, em um momento, o gerente (polonês, também) fala pra eu ir buscar um carro.

- Mas senhor, eu não sou muito bom na direção.
- Vamos, eu vou junto com você.

Saimos, peguei um Honda Civic (o equivalente a um Fusca daqui), ele me guiou o caminho todo, me explicou a dinâmica das ruas do estacionamento, e o caminho que eu deveria percorrer com o carro, finalizando na porta do estacionamento. Deveria deixar o carro ligado, com o aquecedor ligado, e a chave junto ao meu número (92) numa caixinha onde o cliente pegaria e iria pagar pra liberar a cancela.

Feito isto, liberou mais um carro pra mim. Estava na posição J-34. Fileira A, B, C...até a Jota. Não encontrava a merda da Jota. Como estava demorando pra achar, comecei a apertar o botãozinho do alarme, que fazia "piu piu", e me guiava na direção. Dado momento, já coberto de neve, encontrei o carro. Mas não era SÓ um carro. Era um Lexus RX . Minha perna já começou a tremer. Entrei, pus a chave na ignição e virei. O banco neste momento se ajustou à minha altura, e a direção na distância mais apropriada. Gente, juro. Suava feito um porco de nervoso. Liguei o carro, e comecei a procurar o freio de mão. Não tinha! Pus o câmbio no "D" (Drive, a posição dos carros automáticos pra joça andar), e fui pisando calmamente no acelerador pra ver se não estava travado pelo freio de mão mesmo. E não é que começou a andar? Eu só esqueci que do meu lado direito também tinha um carro, e virei a direção bem a mais do que deveria. Conclusão: Fui saindo em cima do outro carro, e deixando a lateral inteira do meu amassada. Antes fosse um poste, que o prejuizo seria menor. Mas não, eu bati em um Jeep Patriot . Comigo é assim! Não tenho acidente de Brasília 73 não! Basta de miséria!

Em um determinado momento, um carro enroscou no outro. Eu inocentemente achei que fosse o maldito freio de mão! Dei uma rezinha, e nesta hora ouvi um estalo na lateral. Pensei: Fudeu! Eu risquei o carro! (Risquei, hahaha! Mal sabia!)
Já não enxergava mais nada no caminho. Fui guiando até o local, passei a rua certa de virar dentro do estacionamento, freei no gelo e derrapei, foi uma bênção. Nessa hora, eu tremia, suava, rezava, cagava...aconteceu de tudo!
Parei o carro. Desci. Fui direto ver. Meus amigos, minhas amigas. Eu simplesmente DESTRUI a lateral direita INTEIRA do carro, começando na porta da frente, terminando no final da porta de tras. Neta hora mágica, pensei em várias soluções:

1) Fugir (eles tinham meu endereço);
2) Deixar a chave do carro com o número de outra pessoa (não seria justo);
3) Deixar a chave do carro sem número nenhum (eles deviam ter câmeras);
4 e último) Deixar a chave do carro com meu número normal, com a esperança que ninguém se desse conta da pequena diferença.

E foi isto o que fiz. Deixei na caixinha a chave com o número anotado, e voltei pra dentro.
Em 3 minutos estavam na sala o dono do estacionamento, o chefe de turno, o gerente e todos os empregados. Entre urros e partos normais, todos gritavam comigo.

-"You've crashed a Lexus!!!!".

Dei uma de John Armless, e dizia "Juuuuuuuuuuuraaaaaaaaaa?????". O gerente me catou pelo cangote e me levou até a famigerada vaga J-34. A marca dos pneus na neve era ridícula. Iam diretamente pra cima do Jeep! Ah, e o Jeep estava com a frente toda destruída. O cara falava uns palavrões em Polonês, e eu (ainda tremendo) resolvi perguntar:

-O que vai acontecer comigo?
-E eu lá sei o que vai acontecer com você!
-Eu vou ser deportado????
-Deportado que nada! Você vai ter que pagar o prejuízo!

Nesta hora eu comecei a considerar que ser deportado podia não ser tão ruim assim. Tudo bem...eu fico com o meu prejuízo, você fica com o seu, e seremos felizes para sempre, ahn? NOT!
Voltamos pra salinha. Dali a pouco vem o dono do estacionamento e pede meus documentos.

- Eu não tenho carteira de motorista.

Mais um urro. Esse foi com mais vontade. Nessa eu aprendi alguns palavrões em polonês. Kurwa é puta! Só sei disso! Dali a pouco voltam todos:

-Garoto, pegue suas coisas e suma daqui AGORA! VOANDO! O seguro está chegando e vamos botar a culpa em outra pessoa que tenha carteira! Some agora daqui!

Não preciso nem dizer que em 27 segundos e meio eu havia catado todos os meus casacos, blusas, toca, luvas, botas e afins, e fugi que nem um louco no meio de uma nevasca.
Em uma hora e meia eu fui contratado, cadastrado, treinado e demitido. A polonesa que me arranjou o job deu um duplo twist carpado quando ficou sabendo.

Fim de jogo: Eu continuei desempregado sob a ameaça de pagar 1000 doletas de ativação do seguro, a polonesa ficou mais puta then ever comigo, e a neve parou de cair. Sai fugido do estado de Ohio, e não posso dar as caras por lá, com medo de ser absorvido pela máfia polonesa. Agora me diz, é ou não é uma ótima forma de começar seu intercâmbio de férias?!

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