sábado, 22 de novembro de 2008

Crônica da Educação

Texto profano perdido no meu Blog profundo:

Eram 7 da noite passadas. Estava exausto por conta de um contato forçado com a natureza que me levou a um trekking muito cansativo. Ainda mais sendo contra a vontade. Mas no fim foi legal. Mas isso não vem ao caso. Estava de pé desde as 7 da manhã...coisa que já não é de meu agrado...notívago por natureza (com o perdão do trocadilho), assumido. Aliás...por quê todo evento de contato com a natureza tem que ser de manhã? Que saco! Poderiam me deixar dormir e fazer isto durante a madrugada...acompanhada de violões, uma fogueira...bom, também não vem ao caso.
O fato é que depois de um dia extremamente fatigante (ainda tive que correr para dar tempo de estar no metrô naquela hora, a fim de pegar um ônibus, viajar e me libertar do excesso de gente da capital) eu peguei a última cadeira marronzinha livre, junto à minha enorme mala. Isto me faz pensar que preciso aprender a fazer malas pequenas. Mas também não vem ao caso. O caso foi que no auge do meu cansaço e esgotamento, entrou uma senhora no vagão do metrô. Eu estava ouvindo música, mas fiquei olhando se nenhuma das outras pessoas inúteis que estavam sentadas no assento reservado a idosos, deficientes, pregnants e afins se levantariam. Mas nada. A menina com cara de bode fingiu que não viu a pobre senhora e continuou a lixar as unhas. O cara do lado dela estava dormindo...ou tentando estar para não ter que dar seu lugar.
E as rugas da velha senhora, velha mesmo, pareciam se aprofundar...As mãos, já calejadas por tanto sofrimento da vida, seguravam na barra de ferro tão fria quanto as pessoas que a rodeavam. E aquela sensação estava me matando! Não poderia mais ver aquilo e continuar sentado, apesar de todo meu cansaço. Resolvi levantar. Peguei a mala gigantesca e apontei o lugar para a senhora. Ela olhou e disse:
- Não precisa não filho, senta aí.
E eu respondi:
- Não, por favor, sente.
Ela dirigiu o seu olhar para o lugar (o qual eu me encontrava de costas) e disse:
- Ah, obrigada mesmo assim.
Quando eu olho para o lugar, me deparo com uma menina, de uns 23 anos, lendo sua "Vanity Fair" semanal, sentada de perninhas cruzadas no lugar que ofereci à senhora. Gente, juro. Neste momento todo o cansaço do dia me subiu à cabeça e, não sei como e nem por onde, cutuquei a menina e disse:
- Ô minha filha! Eu não dei o lugar pra você, dei pra senhora ali!
Ela olhou com um olhar blasé e perguntou pra senhora:
- A senhora quer sentar?
E a pobre senhorinha respondeu com a mesma calma de antes:
- Não, pode ficar...
Ela olhou pra baixo e voltou a ler sua revista.
O cara que estava do lado riu baixo e deve ter pensado consigo: "Puta que pariu, que mundo cão!"
E eu fiquei de pé, segurando a mesma barra fria que a senhora segurava, em silêncio, com a mala enorme entre as pernas...e com a cara de idiota que Deus me deu especialmente pra estes momentos.
Desci na minha estação e ela ficou lá na cadeira lendo a "Vanity". Como eu odiei aquela vaca. Como odiei sua falta de escrúpulo, educação, sensibilidade, noção...falta de tudo! Da próxima vez jogo a velha na cadeira. Faço uma revolução! Queimo todas as "Vanity's Fair's" da banca. Arranco o couro da menina da revista e frito uma pururuca ali mesmo na frente dela, com o óleo de pastel velho. Dou uma voadora no cara que riu da situação. Ou rio junto com ele e digo: "Puta que pariu, que mundo cão!".
Pensado bem...foi só uma cadeira do metrô. Nem merecia uma crônica. Mas minhas pernas ainda doem.

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