sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Vale a Pena Ver de Novo!

No auge de meus 12 anos de idade, com muito tempo livre - mal sabia eu - e leitor assíduo da Revista Época por influência de papai (confesso o crime...ainda me guiava exclusivamente pelos direcionamentos direitistas de meus pais), uma idéia me matutava a cabeça. Porquê caralhas existem notícias que se repetem todos os anos, geralmente nas mesmas épocas (com o perdão da associação), todo mundo já sabe o que rola, não muda (nem há nada que se possa fazer, muitas vezes), mas aparece novamente?

Não entendeu? Vou deixar mais claro. Sabe quando você ouve o Evaristo Costa (porquê esse tipo de matéria-enche-lingüiça só entra no Jornal Hoje, Fafá (reparem minha intimidade com Fátima Bernardes) jamais perderia seu precioso tempo divagando sobre estas superficialidades em pleno horário nobre) dizer alguma coisa e sente que aquilo foi um déjà-vu? Pois é...não aconteceu um sintoma que a ciência não sabe explicar. Ocorreu um real déjà-vu. Você já viu ele falando sobre aquilo. Tudo bem, exemplifico:

O peso da mochila das crianças: Entra ano letivo, sai ano letivo...sempre tem um raio de um repórter pesando as mochilas dos pobres estudantes e afirmando que estão muito pesadas. Pra começar queria saber que aqueles pirralhos carregam! São Fernandinhos Beira-Mar Jrs, só pode!!! Aí sempre vem o Doutor Fulano - com a legenda em baixo "Médico Ortopedista Professor da Universidade de São Paulo" - dizendo: O sobrepeso nas mochilas dos pimpolhos deverá ocasionar lordose, cifose, escoliose em pouco tempo, que nem RPG do J.R. Tolkien resolve...e as vagas no sino master da igreja de Notre Dame já estão ocupadas por ex-alunos de escolas brasileiras. Triste. E repetitivo.

Secura do mês de Julho: Cena clássica. Aparecem corredores de hospitais lotados de velhos e crianças sofrendo horrores para respirar, chupando ar molhado naqueles respiradores, e afirmando que segundo o Instituto Trá-lá-lá de medição, a umidade relativa do ar (umidade relativa é quase como aquele papo de sensação térmica...ninguém sabe a diferença, mas entende que é mais foda do que parece) está em x% (sendo que esse x é invariavelmente menor que 20). Ponham bacias de água nos quartos, hospitais, e se forem ricos comprem umidificadores de ambiente (com essência de Calêndula de Chipre, porfa) para que seus catarros fluam naturalmente pelas entranhas. Sempre aproveitam o final desta matéria para chamar a previsão do tempo, começando o diálogo com: "E aí Patrícia Poeta (nos tempos em que ela, além de Poeta, só apresentava chuvas e sóis e não dava rasteiras na Glória Maria), o Paulistano já pode ficar mais tranqüilo?" . Utilidade pública? Repetição!

Última hora: Tá todo mundo mais do que cansado de saber que o Brasileiro deixa tudo pra última hora. Não é à toa que os shoppings fecham às 20 para daqui o evento, e os funcionários atendem td mundo com uma cara mix de cu (por ter que estar lá naquele momento) e alegria (por estar faturando uma grana e assegurando a parcela do financiamento). Pensa num cu alegre que você vai entender a analogia. Aí aparecem os repórteres com um tom meio incoformados nos shoppings: "Faltando (olhadinha no relógio) 10 minutos para o Shopping fechar, ainda tem muita gente correndo atrás do presente na última hora!" Aí mostra uma tia meio chique correndinho: "Não deu tempo de comprar antes! Tenho que ir agora!". E então um senhorzinho mais classe baixa dizendo: "É...acontece que a mulher queria comprar uma coisa, mas daí só deu pra estar aqui agora e.."(cortam...pq ele explicou toda a desinteressante história do presente). Esse tem um alto grau de repetição nos jornais. Pensa que, se temos 5 grandes momentos-trocaremos-presentes no ano (Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Natal e Páscoa), este tipo de reportagem passa, seguramente, 5 vezes ao ano. Haja testículos...

25 Lo-ta-da: Não deixa de se relacionar com o anterior...mas o choque dos repórteres é sempre divertido. Mostram, assustados, a Twenty Five of March vomitando pessoas pra fora. Isso tá todo mundo mais careca de saber que o Sargento Pincel. Aliás, se as pessoas que vão lá encontrassem tudo vazio, certamente iam embora, desconfiadíssimas. Ninguém quer encontrar a 25 vazia. O calor humano, a falta de "toaletes", a pechincha e a grandiosa muvuca estão para 25, assim como o pêlo está para o sovaco. É quase uma C.E. (momento não sou tão tapado em Matemática quanto imaginava). 25 é isso. Voltem lá pra fazer matérias quando estiver vazia...porque aí sim tem algo novo.

Décimo terceiro: Em meados de Novembro é DE LEI os jornais fazerem uma matéria sobre o décimo teceiro salário. Corto meu pinto fora se não aparece sempre uma tia fazendo contas com uma calculadora e um monte de papéis. A idéia é sempre a mesma: Alertar o proletariado que gastar o rico 13º (época que as pessoas tendem a achar que estão mais ricas) é bobeira. O negócio é economizar, e usar pra investir ou pagar contas para que seus juros diminuam e, aí sim, você possa se sentir um pouco mais rico (ou um pouco menos pobre, como queiram). Mostra um caso de um cara que gastou todo o 13º em alguma coisa inútil nas Casas Bahia e aí se endividou até o pescoço, e mostra um que economizou por 723 anos seus décimos terceiros e hoje faz fortuna. Tá...entendo a idéia de fazer o povo ter consciência. Mas puta-que-o-pariu! O cara trabalha o ano inteiro feito um desgraçado, paga as caralhas das infindáveis contas em dia, e chega bem no Natal ele tem que pegar aquele bolo excessivo de dinheiro e enfiar embaixo do colchão? Sacanagem da grossa. Eu concordo com o tio. Vai ser feliz nas Lojas Marabraz, porra. Vai matar a mulher de orgulho levando num restaurante que não seja PF com ovo estalado de brinde. Mas eles não cansam de incentivar a prática de economizar o 13º. E por isso repetem...SEMPRE!

Hora da Praia: Nas férias de Janeiro, tá todo mundo na praia. Pelo menos Paulista tá. Vem gente de Itaquequecetuba, Pindamonhangaba, Vargem Grande Paulista, e assim por diante. A fila do pão é de dar ância de lançar (termo excelente de minha querida avó). Daí sempre vem aquelas dicas que NINGUÉM SABE! "Evite o sol das 10 às 15 horas, beba muita água, coma alimentos leves como frutas e verduras", coisas estas que ninguém respeita: Frita o couro feito pururuca no sol do meio-dia (na vã esperança de manter o dourado-praia por todo o ano dentro do escritório), come camarão frito, batata frita, mandioca frita, polenta frita...(se passar um cocô, eles fritam e o povo come), bebe cerveja, caipirinha e outros alcoólicos que vão dar vergonha alheia no final do dia. Enfim...eles fingem que ensinam uma coisa nova, a gente finge que aprende uma coisa velha, e continua tudo a mesma merda. Mas não pode faltar na Primeira Edição do Jornal da Baixada.

E com estas e outras idéias, enviei para a Época estas minhas elocubrações (óbviamente escritas de uma maneira mais suave), e eles publicaram numa coluna meio humorística. Fiquei orgulhoso de mim mesmo. Foi aí que eu pensei em fazer jornalismo. Tinha guardada a dita revista até pouco tempo, mas perdi.

Caralhos de asas que voem diretamente à edição da Rede Grobu e digam a eles: Puta merda....chega.

Victor Gouvêa, um jornalista frustrado.

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